Mar à Pedra

Mar à Pedra

terça-feira, 29 de novembro de 2011

“E o povo pá?”

O título subjacente a esta minha reflexão é uma das frases mais ouvidas nos últimos tempos, isto porque a gestão do país, nos últimos anos, parece direcionada para todos os setores menos para aquele que, de facto, sustenta a nação, ou seja, para um sistema que promova a equidade social.
Para que melhor se perceba a evolução negra da história económica e social da nação, é importante diferenciar o socialismo da “social-democracia”, este que é o apelido daquilo que no passado se designava de capitalismo e mais, recentemente, de liberalismo. A queda do socialismo soviético e o estigma de um regime repressor, que vigorou por quase um século, deu origem a um argumentário de políticas capitalistas que fizeram esquecer o verdadeiro socialismo e a verdadeira ambição de Marx e Engels, que aspiravam esbater as diferenças sociais de uma sociedade moderna. Para isso foi, é e sempre será necessária a intervenção de um estado que regule a economia e que não abdique de administrar os bens essenciais de uma nação; que não deixe de assegurar uma Justiça que faça jus ao nome; uma gestão da causa pública sem interesses manifestos de privados e em que sejam os eleitos a decidir e a gerir os destinos de uma nação e não os nomeados diretos ou indiretos; uma saúde de qualidade e para todos; a criação de condições de geração de postos de trabalho e apoio a todos os que, por alguma razão, se encontram excluídos do mercado de trabalho. São fatores que parecem demagógicos e, de facto, são tendo em conta os padrões vigentes.
Este socialismo atual, que alguns apelidam de “moderno”, criado por Tony Blair, teve a sua origem para que o partido trabalhista inglês pudesse acercar-se do poder, o que se veio a verificar. Não obstante, este modelo é insustentável, pois é impraticável a médio-longo prazo, já que não contempla o bem social da comunidade no seu todo. José Sócrates apenas colocou a estratégia de Blair em curso e conseguiu obter os mesmos resultados, a vitória eleitoral, contudo obteve, também, os mesmos resultados políticos, ou seja, o aumento da dívida externa, o desapego aos setores primário e secundário e, consequentemente, à dependência de outrem, que no caso inglês, resultou da aproximação aos Estados Unidos e que no caso português redundou na aproximação a todos e quaisquer que nos consigam assegurar os compromissos assumidos para ontem. A consequência era inequívoca, a demissão, e a consequente perda dos destinos da nação para um modelo mais individualista, porém, pelo menos, perde para um capitalismo que pode ter muitos defeitos, mas não pode ser acusado de incoerência.
Esta queda governamental, a meu ver, não é só o abolir de um socialismo descaraterizado, mas, acima de tudo, a queda de um modelo falido, injusto e cruel, principalmente, para os mais indefesos, que são incapazes de remar contra um regime formatado para apoiar os mais fortes e deixar de parte os mais fracos.
É este o verdadeiro conceito capitalista que os portugueses ainda não perceberam que está a degradar a saúde do país e, consequentemente, das famílias. Foi este capitalismo que vendeu uma falsa riqueza a Portugal mas que será paga à custa da destruição da já débil economia portuguesa e da penitência do povo que até o posto de trabalho poderá ter de abdicar. É este mesmo capitalismo que vai voltar a vencer as próximas eleições legislativas que, acima dos partidos, está já enraizada na sociedade e que só cairá quando o estado quiser regular o sistema financeiro, implementar um sistema de controlo de preços de bens essenciais para a vida de qualquer cidadão e, finalmente, conceder as mesmas oportunidades a todos os portugueses, sem exceção.
No dia que disserto este “desabafo” ouvi o Presidente de Câmara Municipal da Nazaré, ao defender mais um relatório de contas deficitário, afirmar que os aumentos dos preços da água, dos RSU, entre outros, terão de ser efetivados para que as contas, já em si muito débeis, possam ficar equilibradas, isto tudo com o silêncio ensurdecedor de todos os eleitos que assistem a este processo sem usarem o cargo de quem, por direito, os elegeu.
Para mim, o equilíbrio só se cumpre com políticas de poluidor-pagador efetivas, com sistemas de gestão de resíduos eficazes, em que o utilizador paga e o que não utiliza não deve ser penalizado.
A atual gestão danosa faz com que agora, se coloque em causa, umas vezes em voz alta e outras em surdina, a autonomia política do concelho da Nazaré. É esta a política capitalista: o que não dá lucro ou fecha ou é anexado. Obviamente refuto esta tese. Afirmo e reafirmo que sou um socialista nazareno, convicto de que é o modelo socialista, devidamente adaptado, o que melhor serve o interesse nacional e regional, sem nunca descorar a importante colaboração da sociedade civil e da comunidade empresarial, sempre com apreço por todos os intervenientes no processo de sustentabilidade, porque afinal o capitalismo não prevê a estagnação nem lida bem com a regressão, contudo ela está aí e é preciso que se compreenda que só com políticas de auto-suficiência e sustentabilidade, Portugal e, naturalmente, a minha terra natal, a vila da Nazaré, poderão caminhar, calmamente, para um futuro melhor para “TODOS”.