Mar à Pedra

Mar à Pedra

domingo, 23 de novembro de 2014

Discurso Pessoal no XVI Congresso Distrital de Leiria do Partido Socialista



Caras e caros camaradas,

Vivemos atualmente um período crítico da nossa história. Hoje, mais do que nunca, o Estado Direito que fomos defendendo, há mais de 30 anos, sofre várias ameaças de várias ordens, que colocam em causa o funcionamento da própria Democracia”.
É esta a frase inicial da Moção Global Estratégica apresentada pelo camarada António Lacerda Sales, com a qual não poderia estar mais de acordo.
Efetivamente, os dias que vivemos estão a ser, e serão no futuro, um desafio para esta geração e para as vindouras. A geração da esperança, a mesma que viveu abril, fracassou. É um facto. 40 anos depois, o sistema político está enfermo; as populações não se reveem nas políticas propostas pelos partidos políticos, principalmente, porque consideram que os políticos estão, não ao serviço das populações, mas a servir-se das mesmas.
Se até há alguns anos atrás, a Justiça era ainda um reduto impoluto, hoje todos reconhecemos a promiscuidade entre o sistema político e judicial. Caso mais evidente são as constantes decisões, e até a falta delas, que premeiam os criminosos e, como consequência, penalizam quem vive de práticas de honradez.
Foi este o país criado por essa geração falhada, que tudo teve e que só delegou nas gerações futuras os enormes problemas gerados. Alguns dirão que é com os erros que se aprende e que todos têm direito a uma segunda oportunidade, eu até subscrevo essa tese. O que rejeito liminarmente é a utilização da política para a concretização de objetivos pessoais, em detrimento do fundamento da causa partidária, ou seja: a de servir, dentro dos ideais doutrinários de cada força política, os mais elevados interesses das populações.
O que me move a mim, e a muitos dos camaradas presentes neste congresso, em apoiar a moção do camarada António Sales, é tão-somente a defesa desses basilares princípios sociais, fundamentais para quem representa populações: a honestidade; a credibilidade; a humildade; a ética; a competência técnica; a experiência, a persistência e, acima de tudo, o facto de não necessitar da política para obter dividendos pessoais.
Os futuros representantes das populações terão de deter todos estes atributos, para que não se cometam os mesmos erros do passado.

É com descomunal lamento que identifico, hoje nesta sala, cidadãos que apoiaram os nossos adversários políticos; cidadãos que estiveram presentes em campanhas eleitorais de outras forças políticas, como o PSD; cidadãos que foram eleitos por outras candidaturas e que nem sequer tiveram o pejo em manter a militância no Partido Socialista. Felizmente perderam!
Estes cidadãos são os mesmos fundadores da interminável senda de derrotas que se iniciou há mais de vinte anos. São os mesmos que tudo têm feito, nos últimos tempos, para dificultar a árdua tarefa que o camarada Walter Chicharro e o projeto do Partido Socialista têm em mãos, e todos sabemos bem com que intenção.
Ganhou o Partido Socialista. Ganhou a Nazaré!
20 anos depois o PS voltou a ser poder na Nazaré!
Mas a maior vitória foi a derrota desta doutrina voraz, cuja única premissa é a defesa dos interesses individuais em detrimento dos interesses coletivos.
É contra estes métodos de fazer política que me verão, sempre na frente de batalha, em defesa dos mais elevados interesses das populações, sempre sob a égide da doutrina socialista.
Nesta retumbante vitória, não pode ser esquecida a colaboração inexcedível dos órgãos distritais e nacionais, encabeçados pelo até hoje Presidente da Federação Distrital, João Paulo Pedrosa, e pelo ex-secretário geral do Partido, António José Seguro, que tudo fizeram para que o PS concretizasse estas e tantas outras vitórias, no distrito e no país.
A todos eles o nosso enorme e eterno obrigado.

Caras e caros camaradas,
Os próximos tempos serão de enorme exigência e, como em tudo na vida, é nos momentos mais difíceis que se evidenciam as soluções.
Por vezes, é necessário dar dois passos atrás para se poder dar quatro passos em frente.
Tenho de acreditar e tenho de me bater sempre pela verdade; pela seriedade; pela coerência; pelo rigor; pela justiça.
O Partido Socialista precisa de chamar a si as populações. Necessita de voltar a deter a credibilidade perdida no passado. Este terá de ser o nosso compromisso para com a nação. Portugal não pode voltar ao passado!

O PS é um partido nascido do povo e para o povo.
O PS somos nós!

Viva da Democracia!
Viva o nosso PS!



Muito obrigado!


Orlando Rodrigues

terça-feira, 23 de setembro de 2014

A Guerra e a Ira




Era uma vez um príncipe (José Sócrates) que havia governado o burgo de uma forma ardilosa, mas com uma objetividade de catavento. Se por um lado iniciou o processo de privatização da gestão de águas, saneamento e resíduos (medida liberal), por outro legalizava o casamento gay (medida da autoria da extrema esquerda). Se por um lado entregava computadores a todos os meninos, por outro viu-se na necessidade de fazer-se rodear de sucateiros e de abdutores de robalos. Enfim, foi desafiado para um duelo agendado. O desafiante, de tão frágil que evidenciava ser, ainda assim reuniu um exército mais poderoso, gerou mais consensos e venceu o duelo ao tão poderoso príncipe. O exército vencido recuou ferido e dispersou para as montanhas da última bancada pulpitar. Príncipe morto, burguês (Pedro Passos Coelho) posto.
O burguês fez o que há muito pretendia, apoiado pelo regedor, gerou riqueza à minoria, que já era rica, e empobreceu o povo, que privado das suas terras se viu obrigado a partir para outras paragens. 
Com o exército derrotado em debandada, e com o príncipe decapitado, o nóbil herdeiro (António Costa) o que, naturalmente, seria o líder deste exército decidiu não o ser. Não quis sair do seu castelo altaneiro. Decidiu, juntamente com os conselheiros da antiga corte, apoiar um singelo pagem (Francisco Assis). Um homem de bem, mas que representava a subserviência a quem, por incúria e arrogância, havia desprezado os seus súbditos. Quem também se apresentou para liderar este exército foi um cavaleiro de brigada (António José Seguro). Este era um daqueles que nunca liderou a batalha, mas que nunca fugiu de nenhuma guerra. A argumentária foi feroz, porém os soldados decidiram seguir o cavaleiro. O fiel e honesto pagem, como sempre, foi fiel ao seu principado. Seguiu com o exército.
O momento de gerar um exército capaz de fazer cair um burguês, que não servia a plebe, urgia. O cavaleiro foi, desta feita, em demanda pelo principado. Calcorreou mundos e fundos, cidades e lugarejos. Ouviu os lesados. Falou com todos e, assim, gerou um exército que, para além de armas de arremesso, estava, também, munido de gentes disposta a lutar, livres, sem contrapartidas. O burguês sentia a ameaça. O seu ardil poderia capitular. 
No dia em que o exército reforçado se preparava para atacar a fortificação em que o burguês já vivia encurralado, eis que surje, montado num cavalo dourado, o nóbil herdeiro, juntamente com a corte fiel que se havia refugiado nas montanhas da pulpitar bancada (Assembleia da República). Quando todos esperavam que estes se juntassem ao exército,que reforçassem o exército, eis que a antítese surgiu. Agora o nóbil herdeiro considerava ser ele o legítimo sucessor e chama a si o exército. Considera que só ele pode vencer as forças inimigas. O cavaleiro pergunta apenas: mas por que não o fizeste aquando da derrota? Porque precisámos de vencer duas batalhas para agora reclamares o exército e os futuros títulos para a tua pessoa? O nóbil herdeiro e restantes apoiantes chamaram a si os que de si sempre dependeram, lançaram os gritos de guerra e consigo acolheram mercenários e humildes e fiéis batalhadores.

Eu sou só um guerreiro de arma na mão, alguém que só quer o melhor para a sua aldeia, para a sua família.  Quem me lidera? Pergunto com tom de estupefação. Mas agora é assim? Irei agora defender os reclamantes que haviam perdido o principado para tão impreparado burguês. Auxiliar os que nada fizeram para reaver o principado, ou defenderei quem em minha humilde casa, várias vezes, que me ajudou nos momentos difíceis do pós-guerra. Onde estava o paladino nóbil? Em seu forte? Não sei...
O que sei é que o burguês tem de sair para reavermos os nosso direitos, temos de unidos fazer a força necessária que a plebe tanto reclama e que a nação tanto anseia. 
O exército está dividido, ferido. As brigadas que chegaram com o nóbil herdeiro cavalgaram demasiado. Estão sedentas. Parece que, uma vez mais, a guerra está em risco. Ainda assim, desenbainham as armas laminares. Cavalgam para os seus pares. Todos olham em redor e não sabem se defender o parceiro ou se o devem ferir de morte. Começa a batalha fratricida. Do alto do monte os mensageiros do burguês, rejubilam. Cavalgam, em trote de passeio, para junto de seu mestre com a grandiosa notícia que a vitória aproxima-se sem sequer transpirar.

Por instantes baixo a cabeça. Respiro fundo e volto a erguer a face. Olho em redor. Arrepio ao assistir à dantesca imagem que irradia da ambição sequiosa do nóbil herdeiro. Desta feita, foco o horizonte e, num grito de ira, exclamo: Pátria ou morte!
Corro, corro e corro. Corro para longe daquela batalha entre pares. Nem sei quem me segue, nem me interessa, todos me olham pasmados, indecisos inebriados pela questão nuclear que brando a toda a voz: - Querem ou não querem mudar? Afinal para que servem as guerras?

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Por favor! - Não vão por aí...


As modas são cíclicas. É tão-somente esta a esperança de quem aguarda, pacientemente, por uma nova oportunidade. Não vou ter brandas nem medidas palavras nesta minha reflexão. Não porque não possa, mas porque não quero. 
Não admito que aqueles que ajudaram, com manobras ardilosas e subreptícias, a perpetuar um modelo autárquico na minha terra natal que só ajudou a alongar uma gestão danosa que privilegiava alguns em detrimento da maioria, venha agora se apresentar como impoluto e detentor de intocável credibilidade.
Foi assim, e assim seria se um projeto ambicioso e desprendido desses vícios passados, incorporado de gente de cara limpa, que nunca se envolveu em atos menos adequados a quem vive em sociedade, contra quase tudo e quase todos os que da política local se tem alimentado. Afinal o desígnio do profeta não se concretizou: "o PS só volta a ganhar comigo".
Se o eterno silêncio de alguns foi assustador durante anos, hoje entendo muito melhor o porquê de tais comportamentos.
Hoje sei quem danificava contadores de água para evitar consumos elevados; sei quem acumulou dívidas de milhares de consumo de água, saneamento e RSU; sei quem acumulou dívidas de largos milhares de euros de taxas de ocupação de via pública; sei quem auferia milhares em quilómetros nunca realizados. Sei mais do que deveria, não duvido. Até mais do que digo. Mas sei. O que mais me entristece é que são alguns destes "impolutos cidadãos" que agora censuram a gestão PS, enquanto em outros tempos nada diziam e nada faziam. Se seria entendível este comportamento em quem defendia a gestão criteriosa, ou seja, que seleciona os beneméritos com critério, não será intolerável verificar que estas vozes pertencem, supostamente, à mesma família política da atual equipa gestacionária? Nada mais falso. Afinal a tolerância agora é ZERO. Isto porque a complacência com as excentricidades de alguns não se coaduna com a legislação em vigor. Preciosidades dirão alguns, seriedade declaro eu. 
Estes "paladinos da derrota", doutos e reputados feitores do negativismo e presunção acumuladas, das quais só exala ódio e despudor. Quase fazem lembrar os testemunhados batismos no rio Jordão. Um mergulho e a pureza eis que surge, de novo, qual recém nascido a espernear, ainda roxo, nos primeiros segundos de vida.

Para estes é normal militantes se apresentarem contra o seu partido? É normal que eleitos por outras forças continuem a exercer o estatuto de militante? É normal que quem conseguiu perder eleições, quando ganhar era o mais fácil, agora surja como salvador? E os que bajulavam tudo e todos, mas no momento das urnas mostravam em surdina, com o ar de quem já enganou mais uns quantos, a intenção de voto na continuidade. Sim na continuidade! Ou acham que estes doutos da derrota alguma vez pretendiam a mudança, estando  protegidos na tão felpuda capa do compadrio? 
Será normal eu ter visto militantes do PS em campanha pelo partido do anterior executivo, lá está, porventura para perpetuar os tais favorzinhos, tantas vezes oportunos e originários de um silêncio confrangedor? Será normal abordar militantes para formar listas e mais listas com intuito de dividir eleitorado? O problema afinal foi só um: o PS voltou a ganhar, 20 anos depois, e os intérpretes eram diferentes. Volto a repetir: o PS ganhou na Nazaré e vossas excelências não votaram neste projeto. E eu, adepto de consensos, digo hoje sem pejo: Ainda bem que não votaram no PS. A vitória foi ainda mais saborosa e histórica. 
Há duas máximas que em política nunca corroborei, talvez por inocência, apesar de acreditar que se deve a compacência: a primeira que "os adversários estão lá fora, mas os inimigos estão cá dentro" e a segunda que "quem perdoa o inimigo às suas mãos há-de padecer". Cuidado camaradas que tenho instinto de sobrevivência. Não caio às primeiras. E quando caio não serei o último a caír. Afinal, o pior defeito do guerreiro é não respeitar o adversário. Sempre gostei que me substimassem. É a minha maior arma.
Comecei a falar de oportunidades perdidas. Perdem mais uma oportunidade: a de ficar em perpétuo silêncio aguardando que a grave poeira assente de vez e que a História se faça, como tem de ser feita, por vezes ocultando a verdade nas soturnas camadas compactadas e endurecidas da eternidade. Poderei fazer parte da história como muita coisa, mas jamais com epítetos transatos que me escuso a retratar.

Este é um conflito que reflete quase a antítese defendida por Sigmund Freund. Desta feita é o mais velho que quer matar o mais novo, tudo para conquistar o colo materno tão saudoso.

Só há um problema: felizmente eu tenho memória, e pelos vistos a grande maioria dos meus conterrâneos também. 

Os recentes "ataques" resultam do drama de quem pensa da seguinte forma: -"Bem nós perdemos sempre, mas como os outros perderam, agora para voltar ao poder só falta destruir quem lá está agora! Em política quanto pior melhor. Diz um curioso que ouve a tacanha retórica, em tom de desabafo: "Já me tinhas dito..."

Um último pedido: Respeitem quem, abnegadamente, de sol a sol, só pensa em salvar a sua terra do caos em que se vê mergulhada. Olhar para uma TV não faz do observador um técnico de TV. Há coisas para lá da tela. Muitas coisas, infelizmente, porque afinal "comeram tudo e não deixaram nada"...