É com um grande pesar que atesto que a
Democracia, nascida após a pseudo revolução 25 de Abril de 1974, está em
evidente decadência. Este conceito nado na Grécia Antiga tinha como base
converter regimes impositivos, como a Oligarquia e a Ditadura, em algo que
privilegiasse a vontade da maioria, ou seja, do Povo.
Muitas estirpes da Democracia foram sendo
criadas, sofrendo inúmeras mutações ao longo dos séculos. Apesar disso, o
conceito básico de defender os princípios e ideias chave da maioria da
população jamais foi, formalmente, adulterado, contudo, nas últimas décadas, tem-se verificado uma subversão do conceito que, abaixo, escalpelizarei mais
aprofundadamente.
Em Portugal, como se sabe, a Democracia só
chegou, formalmente, em Abril de 1974, desde lá Portugal e os portugueses têm
vido a aprender a reconhecer este modelo de gestão do Estado. Os partidos
nascidos após a revolução acima citada foram os principais impulsionadores
deste regime, como também os principais responsáveis da sua implementação.
Foi, efetivamente, neste ponto que se deu uma adulteração
do conceito, já que, ao longo dos últimos anos, deu-se um afastamento dos
eleitos em relação ao Povo. Talvez porque as novas gerações, já nascidas após a
implementação do sistema democrático, desconhecem as premissas básicas da
Democracia ou, então, pretendem ignorar ou subverter. Deixou de se governar para
o Povo e isto é o aniquilar da Democracia. O regime atual assemelha-se mais a
uma Oligarquia do que a uma efetiva Democracia e é preciso que as instituições
políticas o assumam e promovam a necessária aproximação das massas populares.
Deu-se, nos últimos anos, um claro afastamento
entre os programas eleitorais e a execução efetiva dos órgãos executivos. Este
fenómeno começou a disseminar-se desde a Assembleia da República, sistema
democrático nacional, até à democracia descentralizada das autarquias locais.
Daí resultaram desvios financeiros gigantescos originados, principalmente, pela
ingerência do poder económico no poder político.
Ora, esta filosofia mutante em que as empresas
interagem com o Estado, colhendo dividendos, e daí sobejando as dívidas para o
Povo provocaram não só uma relação de desconfiança entre Povo e os seus
representantes como, nos últimos tempos, uma relação mais perigosa de
descredibilização, desprezo e ódio que é importante analisar e erradicar se
ainda queremos, nós portugueses, manter este sistema em vigor.
Assim, uma relação de verdade e honestidade é
primordial. Importante, também, é fazer com que este sistema não privilegie quem
se serve dele, mas sim fazer com que os seus representantes se limitem a servir
os interesses do Povo.
Algo que, também, deu origem a esta virtualidade
decadente foi a degradação de um pilar fundamental em qualquer regime,
principalmente, no regime que se diz democrático. Em Democracia é fulcral a
Justiça. Sem Justiça não há Democracia ou, pelo menos, corre-se o risco deste
regime se subverter, como penso que ocorreu, na maioria das Democracias
modernas. A parcialidade e impunidade evidenciada nos últimos anos deram origem
a um aproveitamento de milhares em detrimento de milhões.
Este desequilíbrio financeiro, agora evidenciado,
há muito que é apresentado e discutido fora dos meios de comunicação social por
membros do Povo, mas sempre abafados pelo poder político e económico, este
último, que se enraizou profundamente no Estado, dando origem a uma ocultação
da verdade ao Povo pela maioria dos seus representantes.
Esta tão afamada crise, que vivemos em Portugal e
no chamado mundo ocidental, é, para além de uma crise económica, uma crise de
valores populares, sociais e políticos.
Desta decadência institucional não se pode
isentar o formalismo democrático dos partidos políticos que antes de promoverem
a Democracia, incentivam o desconhecimento e discussão política no seio dos
cidadãos. Só promovem aproximação ao Povo aquando da aproximação dos atos
eleitorais e, de seguida, promove um efetivo afastamento que corrói o conceito
que aqui disseco: A Democracia.
Assim, compete aos partidos políticos promoverem
uma aproximação física dos eleitores e ideológica dos compromissos assumidos
perante os seus representados. Caso tal não suceda, antevê-se um distúrbio social
iminente.
O mundo mudou! E, obviamente, Portugal não fugiu
à regra. Caso os partidos políticos não alterem as suas ações e se não promoverem
uma auto-regulação e, já agora, um afastamento efetivo da corrupção, então
teremos a lenta destruição da Democracia, como a conhecemos, e entraremos numa
escalada já vivida há milénios, em que outros sistemas começam a seduzir o Povo,
destruindo o que levou décadas a construir.
O governo oligárquico vigente já caiu, é uma questão
de tempo. Cabe a nós portugueses exigir às instituições políticas formais que
se organizem e se revitalizem caso contrário será, uma vez mais, o Povo a reciclar
o sistema político. A Democracia, a meu ver, é o sistema mais justo e
representativo de uma sociedade. Se tiverem dúvidas de como restaurar a
Democracia o que deverão fazer é ler os clássicos como Aristóteles e Platão. Lá está
tudo o que se precisa saber sobre os vários sistemas políticos e os diferentes
conceitos de Estado. É importante que os cidadãos e, em particular, os
políticos os leiam. Aguardo, quase desesperadamente, que o façam para bem de
todos.
Hoje, 15 de Setembro de 2012, é um dia diferente,
é um dia de mudança. O Povo saiu à rua. Espero que seja um dia de mudança
positiva. O descontentamento é mais que evidente e a alteração do rumo, até
agora tomado, deve ser célere, para o bem de todos e da Democracia que o Povo
quer reativar.
Destruir uma sociedade, como tudo na vida, é sempre
muito mais simples que edificá-la.
- Leitores, pensem nisto!
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