Mar à Pedra

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Situação Económica e Financeira Nacional em Outubro de 2011

Um ano depois decidi publicar esta intervenção no programa radiofónico "Vai ó Mar Tonhe", datada de 23 de outubro de 2011, em que partilhei o que era a minha opinião, à época, daquilo que considerei serem medidas muito gravosas, implementadas pelo ainda governo nacional. 
Faço-o não só para partilhar com todos os leitores e ouvintes mas também como instrumento de autodefesa para com todos aqueles que ainda me apelidam de arauto de desgraças cujo único intento que tinham e/ou têm é descredibilizar as minhas posições públicas.

Para ouvir...



  Situação Económica e Financeira em Outubro de 2011 by Orlando Jorge Rodrigues

sábado, 13 de outubro de 2012

A DEMOCRACIA SUBMERSA


O motivo, mais óbvio, que originou as recentes manifestações populares foi o galopante e intencional empobrecimento popular, promovido, com maior incidência, pelo atual governo da nação. No entanto, uma razão um pouco mais subliminar tem a ver com um fenómeno já antigo, que redunda num contínuo afastamento das populações em relação à política e, em particular, aos partidos políticos ou às pessoas que os compõem. Isto deve-se, acima de tudo, a um gorar de expetativas da sociedade civil que se vem agravando desde o brotar da alegada Democracia, que vigorou nas últimas décadas. Digo alegada porque, na sua essência mais purista, a Democracia é, tão-somente, a atribuição de responsabilidades ao povo dos destinos das populações, algo que, a meu ver, jamais se efetivou em Portugal. No pós 25 de Abril, os partidos políticos, recém criados, depressa encetaram esforços para cativar o maior número de eleitores, e diga-se que foi um momento em que a sociedade civil borbulhou, intensamente, na discussão dos seus destinos. Infelizmente, depressa a poeira assentou e o sistema político, ainda agora vigente, criou maus hábitos, ciclos governativos estereotipados, o discurso partidário enregelou e daí até ao desconsiderar o povo foi um pequeno passo.
O que, habitualmente, chamamos de Democracia depressa se tinha transformado num sistema oligárquico, em que uma elite governa e o povo assiste, de longe, ao faz e desfaz, contínuo, sem que em nada possa intervir.
A profissionalização de políticos foi o último passo, e mais célere, para a degradação do atual sistema. O que anteriormente era uma responsabilidade, muitas vezes, rejeitada por quase todos, tornou-se num privilégio financeiro a que muitos acorriam com a ambição de fazer disso a sua carreira profissional.
As populações, longe deste jogo de bastidores, foram sendo desprovidas de direitos enquanto os políticos e legisladores criavam privilégios, benefícios lícitos e ilícitos ao ponto de nem o sistema judicial ter coragem de os combater. Renascia um novo fenómeno: a corrupção.
A constante interligação entre os poderes político, judicial e económico deu origem a um processo de desconfiança, que só estagnou com o crescimento abrupto das condições de vida dos cidadãos, nos anos 90, ainda que de uma forma subvertida como, infelizmente, hoje atestamos.
Chegámos a um momento em que a classe política abusa do sistema vigente, chegando a executar as antíteses das propostas apresentadas ao eleitorado, sem que nada de anormal suceda. Todos estes factos têm dado origem a uma neoplasia célere no sistema denominado de democrático. Nos últimos anos, as populações declinam a delegar em alguém os seus destinos, porque renegam a classe política. Eis a verdadeira razão das manifestações massivas de cidadãos, que somente exigem seriedade na classe política e que estes se limitem a desempenhar a simples função de resolver os problemas dos cidadãos.
Depois desta lenta e contínua mutação, que penso se tornou irreversível e com solucionamento imprevisível, é com enorme espanto que verifico que no concelho em que nasci e habito se está, agora mesmo, a promover uma subversão do que deve ser o estado social e democrático. Pois bem, é intenção do atual executivo camarário, ou pelo menos de cinco ou seis vereadores, de concessionar, por trinta anos, o serviço de águas e saneamento e, logo de seguida, o estacionamento público a privados.
Por muito que a discussão redunde em demagogia bacoca, o que importa é que em momento algum estes políticos propuseram tais medidas à população e agora, depois de eleitos, e em final de mandato, pretendem esvaziar as suas próprias responsabilidades públicas. É no mínimo ilegítimo, sem que se ouçam as populações, promover a alienação de bens públicos para serem geridos por privados às custas do investimento dos cidadãos. Defendo que a Democracia tem um preço elevado, todavia cabe aos nossos governantes não se imiscuírem de gerir a causa pública. Para quem o não quer fazer, o que é legítimo, só resta a saída. Felizmente, que um dos vereadores social-democratas tomou a decisão mais congruente: a demissão de funções. Assim fizessem todos os que se servem do sistema, era um sinal de vitalidade.
Termino a minha reflexão, exprimindo que a geração que viveu Abril, de uma forma ou de outra, resolveu os seus problemas só que olvidou, ou não, que as vítimas destes artifícios serão as gerações vindouras. Ainda vão a tempo de recuar. Só não recua um fervoroso adepto da teimosia. A solução é possível, mas se a não procurarem ou atingirem saiam de cena e dêem oportunidade à geração portuguesa, mais qualificada de sempre, de resolver o que a antecessora fizera. Pelo menos enquanto há tempo. 



Orlando Jorge E. Rodrigues

Versão completa de artigo publicado em Região de Cister (26 de Setembro de 2012)