Mar à Pedra

Mar à Pedra

terça-feira, 23 de setembro de 2014

A Guerra e a Ira




Era uma vez um príncipe (José Sócrates) que havia governado o burgo de uma forma ardilosa, mas com uma objetividade de catavento. Se por um lado iniciou o processo de privatização da gestão de águas, saneamento e resíduos (medida liberal), por outro legalizava o casamento gay (medida da autoria da extrema esquerda). Se por um lado entregava computadores a todos os meninos, por outro viu-se na necessidade de fazer-se rodear de sucateiros e de abdutores de robalos. Enfim, foi desafiado para um duelo agendado. O desafiante, de tão frágil que evidenciava ser, ainda assim reuniu um exército mais poderoso, gerou mais consensos e venceu o duelo ao tão poderoso príncipe. O exército vencido recuou ferido e dispersou para as montanhas da última bancada pulpitar. Príncipe morto, burguês (Pedro Passos Coelho) posto.
O burguês fez o que há muito pretendia, apoiado pelo regedor, gerou riqueza à minoria, que já era rica, e empobreceu o povo, que privado das suas terras se viu obrigado a partir para outras paragens. 
Com o exército derrotado em debandada, e com o príncipe decapitado, o nóbil herdeiro (António Costa) o que, naturalmente, seria o líder deste exército decidiu não o ser. Não quis sair do seu castelo altaneiro. Decidiu, juntamente com os conselheiros da antiga corte, apoiar um singelo pagem (Francisco Assis). Um homem de bem, mas que representava a subserviência a quem, por incúria e arrogância, havia desprezado os seus súbditos. Quem também se apresentou para liderar este exército foi um cavaleiro de brigada (António José Seguro). Este era um daqueles que nunca liderou a batalha, mas que nunca fugiu de nenhuma guerra. A argumentária foi feroz, porém os soldados decidiram seguir o cavaleiro. O fiel e honesto pagem, como sempre, foi fiel ao seu principado. Seguiu com o exército.
O momento de gerar um exército capaz de fazer cair um burguês, que não servia a plebe, urgia. O cavaleiro foi, desta feita, em demanda pelo principado. Calcorreou mundos e fundos, cidades e lugarejos. Ouviu os lesados. Falou com todos e, assim, gerou um exército que, para além de armas de arremesso, estava, também, munido de gentes disposta a lutar, livres, sem contrapartidas. O burguês sentia a ameaça. O seu ardil poderia capitular. 
No dia em que o exército reforçado se preparava para atacar a fortificação em que o burguês já vivia encurralado, eis que surje, montado num cavalo dourado, o nóbil herdeiro, juntamente com a corte fiel que se havia refugiado nas montanhas da pulpitar bancada (Assembleia da República). Quando todos esperavam que estes se juntassem ao exército,que reforçassem o exército, eis que a antítese surgiu. Agora o nóbil herdeiro considerava ser ele o legítimo sucessor e chama a si o exército. Considera que só ele pode vencer as forças inimigas. O cavaleiro pergunta apenas: mas por que não o fizeste aquando da derrota? Porque precisámos de vencer duas batalhas para agora reclamares o exército e os futuros títulos para a tua pessoa? O nóbil herdeiro e restantes apoiantes chamaram a si os que de si sempre dependeram, lançaram os gritos de guerra e consigo acolheram mercenários e humildes e fiéis batalhadores.

Eu sou só um guerreiro de arma na mão, alguém que só quer o melhor para a sua aldeia, para a sua família.  Quem me lidera? Pergunto com tom de estupefação. Mas agora é assim? Irei agora defender os reclamantes que haviam perdido o principado para tão impreparado burguês. Auxiliar os que nada fizeram para reaver o principado, ou defenderei quem em minha humilde casa, várias vezes, que me ajudou nos momentos difíceis do pós-guerra. Onde estava o paladino nóbil? Em seu forte? Não sei...
O que sei é que o burguês tem de sair para reavermos os nosso direitos, temos de unidos fazer a força necessária que a plebe tanto reclama e que a nação tanto anseia. 
O exército está dividido, ferido. As brigadas que chegaram com o nóbil herdeiro cavalgaram demasiado. Estão sedentas. Parece que, uma vez mais, a guerra está em risco. Ainda assim, desenbainham as armas laminares. Cavalgam para os seus pares. Todos olham em redor e não sabem se defender o parceiro ou se o devem ferir de morte. Começa a batalha fratricida. Do alto do monte os mensageiros do burguês, rejubilam. Cavalgam, em trote de passeio, para junto de seu mestre com a grandiosa notícia que a vitória aproxima-se sem sequer transpirar.

Por instantes baixo a cabeça. Respiro fundo e volto a erguer a face. Olho em redor. Arrepio ao assistir à dantesca imagem que irradia da ambição sequiosa do nóbil herdeiro. Desta feita, foco o horizonte e, num grito de ira, exclamo: Pátria ou morte!
Corro, corro e corro. Corro para longe daquela batalha entre pares. Nem sei quem me segue, nem me interessa, todos me olham pasmados, indecisos inebriados pela questão nuclear que brando a toda a voz: - Querem ou não querem mudar? Afinal para que servem as guerras?