Mar à Pedra

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sábado, 8 de novembro de 2008


A “Caminho” do Esquecimento


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Durante cerca de dezoito anos o actual Presidente da Autarquia nazarena foi, enquanto Vereador do PRD e Presidente pelo PSD, defensor da Preservação de áreas como a Serra da Pescaria e Tapada da Pederneira. Esta perspectiva de privilegiar o interesse público em detrimento do desenvolvimento sustentado conteve o incremento do investimento privado.
No último ano e meio tudo mudou, passou-se do oito para o oitenta. Agora, privilegia-se o investimento privado e acusa-se quem aborda questões de interesse municipal relativas à Preservação, Qualificação e Valorização do Património de travar esse mesmo investimento. Nada mais errado.
Nas décadas de oitenta e noventa muitos “atentados” urbanísticos foram praticados neste concelho, tais como: o alcatroamento de vias de calçada, integradas em zonas históricas, entre elas o Caminho Real da Pederneira, descaracterização da traça construtiva dos vários povoados, entre outros.
A dilaceração do Caminho Real foi um desses casos, aquando da colocação de saneamento básico e abastecimento de água para a freguesia de Famalicão.
Ao contrário do que diz o Presidente desta Autarquia, os procedimentos adequados não foram seguidos, de tal forma, que foi esse o principal fundamento, segundo estudo do IPA, para a não-classificação desta referência patrimonial do Concelho como Património de Interesse Público.
Errar é humano, mas é necessário admitir-se que se erra para se poder prevenir no futuro. Ainda que se saiba que a sensibilização deste autarca para as causas do Património não seja abundante, nada impediria os especialistas da Autarquia, aquando da execução da obra, de proporem um levantamento arqueológico, para que se registasse, pelo menos, as características do imóvel. Nada disso foi feito.
Após todo este processo decorrido, o Caminho Real, datado dos inícios do século XIII, tem sido esquecido, ao ponto de se defender a sua memória com uma simples lápide, apagando da mente dos munícipes toda a sua História, com os cilindros de macadame, este registo único na região.
Aquando da discussão das linhas mestras do PDM, o vereador do Grupo de Cidadãos Independentes, António Trindade, solicitou que este Caminho fosse referido e contemplado num processo de valorização e qualificação. Nada disso foi consumado. Não só não foi consumado, como existiu uma tentativa de “apagar” a importância desta referência desse documento, uma vez que a única menção se encontra no inventário elaborado pelo IGESPAR, entidade isenta e de cariz nacional. Este registo patrimonial foi, também, retirado do site da Câmara Municipal, e alvo de um incumprimento de uma deliberação da Assembleia de Freguesia da Nazaré, que propunha a Preservação do Caminho Real. Essa mesma proposta deveria ter sido enviada à Câmara Municipal da Nazaré e à Assembleia Municipal. Nada disso foi feito. Agora, passados dois anos e meio, e sem que essa deliberação, diga-se aprovada por unanimidade, tenha sido cumprida por autarcas, que deveriam defender, apenas e só, o interesse público, ou seja, o interesse de todos, sem excepção.
Tudo isto possibilitou que na última Reunião de Câmara este Caminho não fosse alvo de uma meditação. Em prole do progresso decidiu-se criar uma via de acesso ao futuro Hospital e empreendimentos turísticos, tudo isto com pareceres técnicos.
A solução deste caso não pode deixar de passar pela compatibilização do interesse público com o interesse privado que, consequentemente, poderá ser positivo para toda a população.
Ao contrário de muitos outros destinos turísticos, a Nazaré consegue complementar os mais variados contextos: o Turismo de Mar, Religioso e de Campo. Mas, se for apenas um destino turístico de mar, com certeza que não será encarado como um dos principais destinos turísticos nacionais, devido a factores climáticos e marítimos que impedem um usufruto constante. Se for visto, apenas, como destino de teor religioso perde, claramente, para a proximidade do Santuário de Fátima. A solução estará em interligar estes factores como uma condição primordial e enriquecedora de qualquer comunidade: O Património edificado e cultural.
Não creio que os investimentos privados queiram desprezar um Caminho que, reconhecidamente, foi durante séculos a via de entrada na então vila da Pederneira, de acesso ao Mosteiro de Alcobaça e até de romagem ao Santuário de Nossa Senhora de Nazaré.
Imagine-se o que seria decepar as palmeiras do Largo de Nossa Senhora da Nazaré, plantadas por um antigo Administrador da Real Casa de Nossa Senhora da Nazareth, aquando do nascimento de cada filho. Isto significaria destruir e descontextualizar o passado.
Assim, pode-se concluir que o passado tem um contexto e é obrigação dos autarcas e população, em geral, contextualizar e valorizar o nosso passado e a nossa identidade, porque sem passado é difícil assegurarmos o futuro.
Publicado in, Região da Nazaré (1/10/2008)

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