No passado dia 31 de outubro, ao assistir a uma Reunião de Câmara do
órgão nazareno, fiquei estupefacto com a apresentação de uma proposta, aprovada
por unanimidade, que visava e visa, acima de tudo, desresponsabilizar os
anteriores e o atual executivo camarário pela situação financeira em que esta
se encontra.
Se esta metodologia é, por si só, um ato pouco corajoso de quem assume os
destinos do Concelho, há quase duas décadas, o argumentário é, no mínimo,
absurdo e possível alvo de descrédito e até escárnio nas mais altas instâncias
para o qual será remetido para análise.
Segundo a tese do proponente, leia-se o Presidente de Câmara, e os
subscritores, que foram a restante vereação, o concelho da Nazaré tem sido,
desde há muito, penalizado em termos financeiros, pelo governo central, já que,
apesar do concelho da Nazaré se encontrar registado com pouco mais de 15 mil
habitantes, segundo o argumento apresentado este é um número errado, pois, nas
contas do proponente, o concelho tem mais de 33 mil habitantes! Isso mesmo que
leram. Assim, é pretendido que aqueles que são contabilizados nos seus locais
de residência sejam também contabilizados onde têm segunda residência.
Oculta-se, assim, que estes cidadãos já pagam impostos na sua terra natal e
que, da mesma forma, pagam todos os impostos como o IMI, IMT, Taxas da Água,
Saneamento e RSU no concelho da Nazaré. Deste modo, o que se propões é que se
multipliquem cidadãos! A solução parece brilhante, mas, desta forma, temos um
país sobrepovoado com mais de 25 milhões de pessoas e, talvez por isso, com um
índice de desemprego e endividamento tão acentuado?!
A ser vista como uma proposta séria talvez não fosse de descurar o facto
de largas centenas de munícipes não viverem e não trabalharem no concelho da
Nazaré, alguns até se encontram em alto mar grande parte do ano, já que aqui no
burgo não existem condições laborais que promovam uma situação de estabilidade
às famílias locais. Assim sendo, partimos do princípio que estes cidadãos não
deverão ser contabilizados como moradores no concelho da Nazaré.
Agora a sério, em tempos de crise o mínimo que se pode exigir é seriedade
aos nossos governantes e que estes assumam os sucessos e insucessos enquanto
executantes de políticas. Quando se utiliza o argumento de que se investe para
massas quando se tem um concelho pouco povoado, talvez fosse pertinente evidenciar
onde se investiu para esta “população clonada”. Talvez na Marina ou nos hotéis
de 5 estrelas, nos campos de golfe e resorts de luxo, no teleférico para a
Pederneira, no Centro de Alto Rendimento de Surf, na Requalificação da Marginal
e respetivo parque subterrâneo, na ALE de Valado dos Frades, no Hospital
Israelita. Mas não! Tudo isto foram miragens que a serem concretizadas poderiam
ser o argumento válido para a asfixia financeira da autarquia, mas não foram e,
assim, o argumento cai por terra. Nada foi feito para os locais e muito menos
para quem só cá vem “ver a bola”.
Para além disso, aquela que parecia ser uma gestão inspirada nos princípios
do socialismo norte-coreano, baseada numa municipalização castradora, em menos
de dois anos transformou-se num regime ultra-liberal, que visa privatizar os
serviços públicos, como a gestão da Água, Saneamento, Transportes Públicos e
até gestão de serviços básicos, nomeadamente os cemitérios que se encontram,
neste momento, em vias de privatização, com as inevitáveis consequências para o
munícipe que daí advêm. Mais estranho é a total passividade de autarcas que,
noutros tempos, teriam posições, claramente, opostas dando, deste modo, razão a
todos aqueles que os apelidam de não se encontrarem ao serviço da causa pública,
mas sim a servir-se da mesma.Para
mim, que defendo que quem se candidata para defender e gerir a causa pública
deve, efetivamente fazê-lo, este tipo de gestão é a antítese da proposta à
população. Esta gestão sem rumo envergonha todos aqueles que pretendem ver a Nazaré
como um concelho profícuo, até para os nazarenos. Como tal, só se pode esperar
uma solução: a demissão!
Sem comentários:
Enviar um comentário